sexta-feira, 11 de julho de 2014

Eu não compreendia o que estava acontecendo ali.
Apenas sei que Hanna ouvia aqueles sons a sua volta enquanto tentava prestar atenção em alguma coisa, sem sucesso.

Senti - me impotente,  já há quase dois meses ou mais aquela expressão apática havia tomado conta do seu rosto e de nossas vidas e na sua cabeça eu percebia que apenas o silencio se pronunciava, aquele silencio desesperador, o mesmo de sempre.

Lá estava ela, semana após semana sentada na varanda, o rosto pálido e a mesma camisola encardida a lhe conferir aquele terrível ar fantasmagórico, durante horas se debatendo na velha cadeira de balanço e sempre em silêncio, como se através dele pudesse escutar a voz de Kevin em algum lugar.

Em algum momento me perguntei como podia saber com tantos detalhes cada dor que se passava com ela. E Mesmo quando nós não trocávamos uma única palavra sequer,  eu sempre sabia.

Foi quando pela primeira vez ela me encarou como se adivinhando minha pergunta, e eu entendi.
Eu vestia a mesma camisola suja, os cortes em meus braços sangravam da mesma maneira, entrei em choque.

Eu havia me tornado um último resquício vivo daquela alma perturbada e agora conseguia lembrar claramente o que havia acontecido.

Não éramos irmãs, eu era um fantasma de toda parte viva que restava em Hanna, ela, um pútrido cadáver que andava e respirava.
Desde que havíamos nos separado no dia da morte de Kevin, éramos duas partes de alguém que havia sido imensamente feliz no passado e não conseguíamos desapegar das boas lembranças e descansar em paz.

Notei que ela continuava a me encarar e depois de um longo tempo tomando coragem, finalmente perguntou:

- Porque ele?

Respondi sem pensar de um modo que não poderia ter sido melhor.

- Porque as pessoas que amamos sempre partem, de uma forma ou outra, por querer ou até mesmo contra suas vontades. E todos os dias estamos sujeitas a ter que dizer adeus.

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